Nada há no mundo que possa libertar o homem e a humanidade da insegurança do seu destino e dar-lhe uma sólida razão de ser. Nem o mais verdadeiro e mais alto conceito de Deus - oriental ou ocidental, cristão ou pagão, judeu, católico, protestante ou muçulmano - , nada pode libertar o homem da permanente insegurança e incerteza do seu destino, nada, exceto uma coisa só - a experiência direta de Deus. Esta, sim, põe termo a todas as incertezas e angústias, a todas as dúvidas e infelicidades. Enquanto não houver no mundo número sufuciente de homens que tenham a experiência de Deus, nenhuma mudança ponderável será possível no seio da humanidade.
Há milhares de anos que há religião no mundo, centenas e centenas, mas nenhuma religião, antiga ou moderna, conseguiu dar paz e felicidade à Humanidade como tal, embora alguns homens individuais tenham alcançado essa felicidade.
A experiência de Deus é um fenômeno essencialmente individual, místico, nunca social; não existe nenhuma religião organizada que possa dar ao homem essa experiência. O próprio cristianismo, assim como ficou conhecido no curso da história; não organizou nenhuma igreja no sentido social - mostrou o caminho individual por onde cada ser humano pode adquirir a experiência íntima de que "eu e o Pai somos um... eu estou no Pai, e o Pai está em mim". Ekklesía (em latim ecclesia, em português igreja) é um termo não de massa, mas de elite. A verdadeira Ekklesía (de ek-kaléo, evocar) consta de pequena escola ou elite dos que foram "evocados", selecionados da grande massa anônima dos profanos; os que foram individualmente evocados ou chamados pela graça para um contato especial com a Divindade; são os "iniciados nos mistérios do reino de Deus".
As religiões sociais, organizadas, são necessárias para reprimir, na medida do possível, o egoísmo humano desencadeado pelo despertar do ego físico-mental-emocional, pela persona do ego. Mas o papel de Deus, que é um fenômeno essencialmente individual, místico, inacessível a qualquer organização.
As religiões organizadas, ético-sociais, têm dados à humanidade muitas coisas boas - moralidade, caridade, assistência social, literatura, música, pintura, arte em geral - , mas nenhuma religião deu, nem jamais dará ao homem aquilo de que ele mais necessita, a "única coisa necessária", a experiência de Deus. Quando o homem tem essa experiência, pode dispensar todas as outras coisas como supérfluas ou secundárias; se não tem essa experiência, nenhuma dessas outras coisas resolve o problema central da existência.
O problema central da existência humana é ser feliz. Mas essa felicidade não deve depender de algo que não dependa dele; não deve ser criada por circustâncias externas, e sim deve brotar da profundeza interna do homem. Felicidade, ou pseudofelicidade, criada por circunstâncias externas, pode ser também destruída por essas circunstâncias; é precária e inceerta, e por isso não é verdadeira e duradoura felicidade.
Ser feliz vem de ser bom.
Mas há dois modos de ser bom: pode o homem ser sacrificialmente bom - e pode ser jubilosamente bom. Somente esse segundo tipo de ser bom é resolve, definitivamente, o problema central da felicidade humana. Enquanto o ser bom ainda for difícil, amargo, sacrificial, está o homem a caminho da felicidade, mas ainda não é solidamente feliz. Enquanto o homem da terra não fizer a vontade de Deus assim como o fazem os homens dos céus - isto é, espontânea e jubilosamente - não está garantida a felicidade do homem.
Mas esse cumprimento da vontade de Deus, assim na terra como nos céus, é impossível ao homem que não tenha experiência íntima e direta de Deus - porque essa experiência de Deus coincide com a experiência do verdadeiro EU do próprio homem. Se é verdadeiro que esse Eu central do homem é "o espírito de Deus que habita o homem", no dizer de São Paulo, ou "o reino de Deus dentro do homem", então a experiência do nosso divino Eu é a experiência do próprio Deus. O Deus imanente ao homem é o Deus transcendente do Universo.
O homem que chega a essa experiência vital chegou ao conhecimento da verdade - da verdade libertadora.
E só esse homem é sólida e irrevogavelmente feliz.
Sem essa experiência o homem é infeliz, no meio de todos os seus gozos.
Com essa experiência o homem é feliz, mesmo no meio de sofrimentos.
Felicidade ou infelicidade são estados do Eu central, são algo que o homem é, e não algo que ele apenas tenha.
A perfeita harmonia do Eu humano com a Realidade divina é a felicidade.
Somente o homem, individualmente, pode-se fazer feliz ou infeliz.
Texto de autoria de Rohden, transcrita no posfácio do livro "O caminho infinito" - buscando a iluminação espiritual - de Joel S. Goldsmith.Ed. Martin Claret, 2005.