21 de ago. de 2010

Sutra do Coração

 
OM, homenagem à venerável perfeição da sabedoria!

O bodhisattva Avalokiteshvara, em profunda meditação Prajna Paramita
viu claramente a vacuidade da natureza dos cinco agregados
e libertou-se da dor.


Ó Shariputra, forma não é senão vacuidade,
Vacuidade não é senão forma;

Forma é precisamente vacuidade,
vacuidade precisamente forma.
Sensação, percepção, reacção e consciência
são também assim.

Ó Shariputra, , todas as coisas são expressões da vacuidade.
Não nascidas, não destruídas; não maculadas, não puras,
Sem crescimento nem declínio.
Assim na vacuidade não há forma,
Sensação, percepção, reacção nem consciência;
Não há olhos, ouvidos, nariz, língua, corpo, mente;
Não há cor, som, odor, sabor, tacto, objecto;
Não há campo de visão nem campo de consciência;
Não há ignorância nem fim da ignorância.
Não há velhice e morte nem cessação da velhice e da morte;
Não há sofrimento nem causa do sofrimento.
Não há caminho, não há sabedoria nem proveito.

Sem proveito – assim os Bodhisattvas vivem esta Prajna Paramita
Sem obstáculos na mente.
Sem obstáculos e por isso sem medo.
Muito para além das ilusões, Nirvana é aqui.
Todos os Budas passados, presentes e futuros vivem esta Prajna Paramita
E alcançam a suprema, perfeita iluminação.

Por isso deves saber que Prajna Paramita é o sagrado mantra;
o mantra de grande sabedoria, o melhor mantra.
O mantra luminoso, o mantra supremo,
O mantra incomparável
Que dissipa todo o sofrimento.
Isto é verdade.
Por isso pratica o mantra da Prajna Praramita
Pratica este mantra e proclama:

GATE GATE PARAGATE PARASAMGATE BODHI SVAHA!

Isto completa o Coração da Venerável Perfeição da Sabedoria.

Poema do Dharma,

Todos os seres por natureza são Buda,
tal como o gelo por natureza é água;
à parte da água não há gelo,
à parte dos seres não há Buda.
 
Que pena as pessoas ignorarem o que está próximo e procurarem a verdade no longínquo,
como alguém mergulhado na água
lamentando-se com sede,
ou uma criança de uma casa abastada
vagueando entre os pobres.
 
Perdidos nos caminhos sombrios da ignorância
vagueamos através dos seis mundos,
de caminho sombrio em caminho sombrio vagueamos,
quando estaremos livres do nascimento e da morte?
 
É por isto que o zazen do Mahayana
merece o mais alto apreço:
oferendas, preceitos, paramitas,
Nembutsu, expiação, prática –
as muitas outras virtudes –
todas brotam dentro do zazen.
 
Aqueles que tentam o zazen ainda que uma vez
limpam imensuráveis crimes –
onde estão então todos os caminhos sombrios?
A própria Terra Pura está próxima.
 
Aqueles que ouvem esta verdade ainda que uma vez
e a recebem com um coração grato,
estimando-a, venerando-a,
ganham bênçãos sem fim.
 
Quanto mais se tu te viras
e confirmas a tua própria natureza –
essa natureza é não natureza –
estás muito para lá de meros argumentos.
 
A unidade de causa e efeito é clara,
não dois, não três, o caminho é correctamente estabelecido;
com forma que é não forma,
indo e vindo – nunca perdido,
com o pensamento que é não pensamento,
cantar e dançar é a voz da Lei.
 
Ilimitado e livre é o céu do samadhi!
Brilhante a lua cheia da sabedoria!
Faltará porventura agora alguma coisa?
O nirvana é aqui, perante os teus olhos,
este próprio lugar é a Terra do Lótus,
este próprio corpo o Buda.

Hakuin Ekaku [1685 – 1768]
(Traduzido por João Rodrigues a partir da versão em Inglês de Robert Aitken Roshi - Diamond Sangha Zen Buddhist Society; revisão de Margarida Cardoso)